sábado, 18 de fevereiro de 2017

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BOCA VERMELHA
Resultado de imagem para desenho de uma boca vermelha
Desenhos espalhados no chão, tintas derramadas, pincel caído e em um tripé tampado com um pano branco. Fiquei por um bom tempo olhando e imaginando que pintura estaria ali. Não queria ser atrevida, mas a curiosidade me dominou; fui abrindo lentamente aquele pano, de baixo para cima, e me deparei com uma bela pintura, em uma tela de mais ou menos dois metros de altura por um metro de largura. O desenho, uma bela BOCA vermelha, da cor da paixão. Fiquei por um bom tempo ali, em frente à tela, imaginando e me perguntando como alguém tivera a ideia de pintar uma BOCA, só uma BOCA, em uma tela tão grande! Havia uma pequena varanda cheia de poeira, mas com vista de tal beleza que parecia imaginária, de onde se via toda a cidade e um bosque ladeando de um lago, com uma rua estreita, mas que as pessoas iam e vinha sem parar. Passando os olhos pelo local, vi um casal sentado de um modo estranho. Ambos estavam sentados de costas e calados, praticamente imóveis. Pensei: “Devem estar descansando”. Um estava colado nas costas do outro, 

mas de repente, levantaram-se e saíram, um pra cada lado, sem se falarem e sem nem mesmo se despedirem. Como não entendi nada, sacudi a cabeça, balancei os ombros com sinais de dúvida e saí dali. Desci uma pequena escada, encontrei uma cozinha com uma pia cheia de copos sujos, chão com cesto de lixo caído, e o lixo todo espalhado. Olhei para a minha direita e vi um grande e belo quarto, com uma linda cama de casal. Aí sim, é que vi desordem total, não entendi nada, mas imaginei que alguém saíra dali, ou às pressas, ou muito triste... Sem pensar, comecei a arrumar a cama, peguei a manta que estava embolada e estendi-a. Cansei de tanto me abaixar para pegar roupas e colocar no cesto; sapatos e sapatos jogados. Nem sei o que me deu na teia, mas arrumei todo o dormitório, o que levou umas duas horas de meu precioso tempo. Fui para a cozinha e lavei todos os copos. Limpei o fogão, tampei e coloquei os copos limpos em cima da tampa. Voltei para a sala, peguei os papéis e os guardei em uma gaveta de uma escrivaninha. Sentei-me em uma poltrona de couro marrom defronte à pintura; estava me sentido à vontade, como se ali fosse minha casa, admirando-a; acabei cochilando, encostei-me no braço do sofá e dormi, dormi um sono calmo, como há muito tempo não dormia. Quando acordei, já era noite. Saí correndo para casa, afinal, havia ido ali para ver um emprego, anúncio de um jornal, e quando cheguei à porta, havia um pequeno aviso: “Entre sem bater!”. Assim o fiz! No outro dia, voltei, e voltei por vários e vários dias, sem nem um sinal de haver passado alguém por 
ali. Sempre que estava com poeira, eu limpava. Acabei deixando aquele apartamento em total organização. O prédio era pequeno, velho, sem porteiro. Nem o portão fechava, tornando com isso minha entrada livre. Arrumei um emprego, mas em todo o final de tarde ia lá, nem que fosse só para dar uma olhadinha, principalmente na tela. Não me cansava de olhar os detalhes daquela pintura. Por passar horas e horas naquele lugar, tomei a liberdade de fazer café e, às vezes, me preparar algum lanche. Era até bom, assim tinha o que fazer e deixava o apartamento com vida. Também ficava uma boa parte do tempo apreciando a bela vista da sacada, e até me esquecia de lavar a cafeteira e os copos, mas quando chegava no dia seguinte, cuidava de tudo. Fui ficando tão à vontade que até tirava una soneca naquela macia cama. Lavei todas as roupas, passei e as guardei. Eram tantas as coisas de luxo que havia naquele pequeno e simples apartamento que eu nada entendia! Um dia, cheguei e, como de costume, fui olhar a tela. Pregado com um alfinete no pano que a cobria estava um envelope. Dentro, continha um bilhete que dizia: “Aqui está seu pagamento”. Com aquele envelope nas mãos trêmulas, pensei: “Meu Deus, como isso veio parar aqui, se eu nunca vi ninguém neste apartamento”. Não sabia se tinha medo ou pavor, só sei que estava muito assustada! Fiquei parada, sem ação por alguns instantes, mas logo caí em mim e raciocinei que deveria sair dali logo, e sem levar aquele dinheiro, pois ele não era meu. Voltei para o lado da poltrona marrom e coloquei o envelope lá em cima.

Fui andando cuidadosamente para o rumo da porta, quando ouvi uma voz me perguntando: – Você não vai trabalhar hoje? Quase caí de tanto susto! Olhei para trás, e veio um jovem sorrindo e me dizendo: – Pode se acalmar que eu não sou alma penada, sou de carne e osso e estou vivo. Pode pegar para você ver. Convidou-me a sentar, e eu, sem nem um argumento contrário, sentei-me. Ele me explicou que era um pintor e que estava fazendo muito sucesso com sua boca vermelha. Disse, ainda, que vendia de cinco a seis telas por semana e que pintava uma por dia. Por isso, todos os dias, eu via a tela no mesmo lugar, mas, na verdade, era sempre uma nova. Contou que, muitas vezes, a cafeteira e os copos sujos não eram deixados por mim, e sim por ele, que estava gostando da brincadeira e, por isso, sempre deixava tudo bem-organizado para eu não perceber que ele havia ido lá. Explicou que, durante o mês, sofreu e aprendeu muito, tendo que ser organizado e cuidadoso como eu. Assim, acertamos, e eu segui com minha rotina, indo todos os dias lá e fazendo toda a arrumação. Só que agora eu sabia que tinha um patrão e, por isso, tomava mais cuidado com tudo o que fazia, mas continuava com a preocupação e vivia me perguntando: “Como pode alguém só pintar BOCA?”. Minha rotina continuava, chegava e já ia correndo ver a tela e a tal boca, já nem achando mais graça, mas olhava assim mesmo todos os dias. Ele, eu nunca via, mas já percebia que havia estado ali.
Sentindo-me como se aquela fosse minha casa, passei a chegar bem cedo e só ir embora à tardinha. Ficava olhando a bela vista, as pessoas passarem, as crianças brincando, nos poucos brinquedos que havia no bosque; os pássaros fazendo suas fantásticas acrobacias, e assim me divertia tanto que nem o tempo passar eu via. Esperava o pôr do sol por detrás das árvores só pelo prazer de ver as cores do amarelado do sol se misturar com o verde das árvores, também seus raios sobre as águas eram de encantar qualquer olhar. Assim, o tempo foi passando, e eu seguindo com minha rotina. Às vezes, imaginava: “Deve ser graça de DEUS, eu ter encontrado um trabalho bom assim, e ainda ganhar bem como ganho. Isso deve ser um presente que mereci”. Um dia, acabei acordando mais tarde, mas também isso nem seria problema, não tinha nada para fazer mesmo. Sai andando lentamente rumo à padaria onde todo dia passava para lanchar ou um lanchinho levar. Entrei, comprei e segui... Chegando, levei um susto! Alguém, que não sei quem, havia lavado todos os corredores e escadas. Pensei: “Que bom, até o cheiro mudou!”. Subi com um pensamento: “Hoje, vou lavar as janelas, assim completo a limpeza que começaram”. Logo no primeiro degrau, encontrei um senhor, que disse: – Bom dia! – Bom dia! – respondi. Ele prosseguiu: – Hoje o dia está lindo, não é, moça?

Olhei para os lados e para o lado do lago, vi que realmente o dia estava belo, respondi que sim, e subi. No segundo andar, encontrei uma moça, que me cumprimentou: – Bom dia. – Bom dia – respondi. Ela continuou: – Deus lhe dê muita sorte! Nada entendi, mas fiquei assustada. “Meu Deus, nunca vi ninguém por aqui neste horário e muito menos me cumprimentando e até me desejando boa sorte, eu hein!...Em meio a tantos absurdos, segui e cheguei à porta. Olhei, e tudo estava igual. – Ainda bem – falei para mim mesma. Imaginei que estivesse como sempre esteve todo o tempo, aberta. Levei a mão à maçaneta para abrir, mas, para minha surpresa, estava trancada. Entristeci-me, afinal, eu nunca tive chave, e nem precisava, a porta ficava sempre aberta. E agora? Será que tudo acabou? Teria ele vendido o apartamento e se mudado, sem nem mesmo me avisar? “Só pode ter feito isso, esse moço é todo cheio dos mistérios, mas vou tocar a campainha. Vi aquelas pessoas saindo, devem ser daqui e, certamente, deve ter mais alguém na casa para me dar alguma explicação”, pensei. Apertei a campainha, mas como nunca a havia apertado, não tinha percebido que ela não funcionava. Então, só me restava bater na porta, mas estava muito pensativa, e até minhas atitudes falharam. 
Sentei-me no degrau da escada, coloquei as mãos no rosto, pensando: “E agora?...”. Já sentia saudade da pintura, ou seja, daquela boca e daquele jovem pintor, que só vira uma vez. Parece que sentia sua falta, mas falta, como? Se só o tinha visto uma vez, meu Deus?! “Estou é ficando louca... Como sentir falta de algo que nunca tive?”. No entanto, eu sentia a perda. Naquele momento, senti que eu estava era apaixonada por aquele homem e falava pra mim mesma: – Mas como? Deve ser do meu imaginário, acho que tudo isso aqui é um sonho! Meio atordoada, levantei-me, tomei coragem e bati na porta. Sem demora, ela se abriu. Eu tremia tanto que nada via nem ouvia; desesperada, perguntei: – Quem está morando aqui? E só ouvi a resposta: – Calma, tudo está em ordem, só fechei a porta pra te fazer uma surpresa, mas entre e veja... Quando entrei, fiquei mais uma vez sem nada entender, a sala estava decorada com muitas e muitas rosas vermelhas; tinha pétalas por todo o chão. Vasos com rosas, rosas penduradas, enfim, rosas por todos os cantos, nem espaço para andar tinha, o único espaço bem no meio da sala, estava ocupado por um dos quadros da BOCA VERMELHA. Fiquei assustada e pensei muito rápido: “Este cara é louco! E agora o que faço?” Meus sentimentos se misturaram entre pavor e paixão, mas ele, percebendo meu desespero, começou logo a falar:

– Não se preocupe, eu não sou doido, sou um jovem de família de classe média-alta, estudante... Nem pintor eu era, só comecei a pintar depois de um sonho, e esse sonho me mandou pintar esta BOCA e ainda me dizia: “Esta BOCA te dará fortuna e felicidade!”. No sonho, vi direitinho este prédio e este apartamento. Por isso, estou aqui. A BOCA, eu sempre pintei e nunca errei, nem sequer um detalhe, também não tinha como, se todos os dias ela aparecia em meus belos sonhos, e só naquele dia em que te vi, descobri que a minha BOCA era a sua BOCA! Fiquei por um instante, ali, parada, mas ele não esperou muito, passou-me o batom da cor da pintura, mostrou-me o espelho, e me disse: – Agora você entendeu que para eu viver e ser feliz, só preciso de sua BOCA... Naquele momento, entendi todos os mistérios que havia entre nós! Dei mais uma olhada naquela tela, ele pegou em meu rosto, olhou para minha BOCA e sussurrou: – É realmente linda! Sem pensar em mais nada, em meio àquelas rosas vermelhas, cujo perfume exalava em todo o ambiente,beijamo-nos  loucamente!Apaixonadamente!
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